
Consultor Técnico Comercial
MCassab Nutrição e Saúde Animal
O colostro é o primeiro alimento ingerido pelos leitões após o nascimento e exerce um papel essencial para a sua sobrevivência e desempenho nas fases iniciais da vida. Rico em imunoglobulinas, nutrientes de alta digestibilidade, leucócitos, hormônios e fatores de crescimento, o colostro fornece energia imediata, regula a temperatura corporal, promove o desenvolvimento do trato gastrointestinal e representa o principal mecanismo de defesa dos leitões nas primeiras semanas de vida, período em que o sistema imunológico ativo ainda não está funcional (Farmer & Quesnel, 2009; Hurley, 2015).
Os leitões nascem sem imunoglobulinas circulantes, sendo totalmente dependentes da absorção passiva de anticorpos através do colostro. A absorção das imunoglobulinas ocorre por transporte ativo nas células do epitélio intestinal, sendo altamente eficiente nas primeiras horas de vida e reduzindo progressivamente até cessar entre 24 e 36 horas após o nascimento (Devillers et al., 2007). Segundo Quesnel et al. (2012), cerca de 80% da absorção ocorre nas primeiras 6 horas pós-nascimento. Assim, o acesso imediato ao colostro é indispensável, especialmente em situações de partos longos ou em leitegadas numerosas, onde a competição entre os leitões pode comprometer a ingestão adequada.
Além da precocidade, o volume total ingerido de colostro influencia diretamente a viabilidade dos leitões. Leitões que ingerem menos de 200 g nas primeiras 24 horas apresentam maior taxa de mortalidade e menor ganho de peso até o desmame, em comparação àqueles que ingerem volumes superiores (Devillers et al., 2007; Ferrari et al., 2014). A ingestão ideal situa-se entre 250 e 300 g, dependendo do peso ao nascimento, da ordem de nascimento, do vigor do leitão e da habilidade materna da fêmea (Quesnel, 2011).
A produção de colostro, diferentemente da produção de leite, é mais influenciada por fatores hormonais e nutricionais do que pela intensidade da sucção. Prolactina, estrogênio e cortisol são os principais hormônios envolvidos na colostrogênese, sendo que alterações no estado fisiológico da porca podem comprometer sua produção (Farmer & Quesnel, 2009). Porcas com escore corporal excessivo, por exemplo, tendem a apresentar menor produção de colostro, assim como situações de estresse durante o parto ou ambiente inadequado podem prejudicar a ejeção colostral (Oliviero et al., 2010).
A nutrição das matrizes durante o terço final da gestação é fundamental para garantir o volume e a qualidade do colostro. Dietas formuladas com adequada densidade energética, níveis balanceados de proteína (em especial a relação lisina digestível:energia metabolizável), vitaminas antioxidantes como a vitamina E, minerais como o selênio e o zinco, além de ácidos graxos poli-insaturados, têm mostrado efeito positivo sobre a concentração de IgG colostral e a vitalidade dos leitões ao nascimento (Theil et al., 2014; Decaluwé et al., 2014).
Medidas de manejo neonatal como a secagem dos leitões ao nascimento, estímulo precoce da sucção, alocação preferencial às tetas anteriores (que têm maior produção), equalização de leitegadas e o uso de bancos de colostro oriundo de outras fêmeas ou previamente coletado são práticas essenciais para assegurar que todos os leitões recebam colostro em quantidade e tempo adequados (Rooke & Bland, 2002; Ferrari et al., 2014).
Diante da relevância do colostro como fator crítico para a sobrevivência, uniformidade, desempenho e saúde dos leitões, torna-se evidente a necessidade de adoção de protocolos rigorosos de manejo na maternidade. Esses protocolos devem abranger tanto o manejo do parto e do neonato quanto estratégias nutricionais específicas para as fêmeas gestantes. A integração entre nutrição, bem-estar e manejo é decisiva para o sucesso reprodutivo e zootécnico dos sistemas de produção suinícola.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Decaluwé, R. et al. (2014). Effect of perinatal feeding strategies on colostrum production and immune status in piglets. Journal of Animal Science.
Devillers, N. et al. (2007). Variability of colostrum intake in newborn piglets. Animal.
Farmer, C. & Quesnel, H. (2009). Nutritional and hormonal regulation of colostrogenesis in swine. Journal of Animal Science, 87, 56–64.
Ferrari, C. V. et al. (2014). Importance of colostrum for piglet survival and performance. Journal of Swine Health and Production.
Hurley, W. L. (2015). Composition of sow colostrum and milk. Animal Science Papers and Reports.
Oliviero, C. et al. (2010). The effect of sow behaviour on colostrum intake and piglet survival. Theriogenology.
Quesnel, H. (2011). Colostrum production by sows: variability of colostrum yield and immunoglobulin G concentrations. Animal.
Quesnel, H. et al. (2012). Factors affecting colostrum quality and immunoglobulin G concentration in piglets. Journal of Animal Science.
Rooke, J. A. & Bland, I. M. (2002). The acquisition of passive immunity in the newborn piglet. Livestock Production Science.
Theil, P. K. et al. (2014). Nutrition and lactation performance in sows. Animal Frontiers.