Confinamento: um Grand Prix em um circuito de 100 voltas.

O objetivo você sabe: chegar no ponto ótimo de abate equilibrando resultado técnico e econômico.
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Aline Moreira

Analista Técnico Comercial
MCassab Nutrição e Saúde Animal

A ADAPTAÇÃO: é dada largada para a primeira volta.

Assim como em uma corrida de Fórmula 1, onde a primeira volta aquece os pneus e dá segurança para aceleração, no confinamento, a adaptação é a fase que determinará a performance dos animais ao longo dos dias de cocho. Esse período é crucial para o boi; novo ambiente, novos parceiros no lote e o principal: nova dieta no rúmen. Uma série de alterações metabólicas e fisiológicas são desencadeadas e se negligenciadas, podem atrasar ou limitar o desempenho dos animais ao longo do período de engorda.

No início do confinamento, as papilas ruminais, estruturas cruciais para absorver os nutrientes da dieta, são relativamente pequenas e ineficientes. Enquanto as bactérias se adaptam em 2 a 3 dias, as papilas precisam de 5 a 7 dias, criando um lag nesse período de adaptação. Esse tempo varia em função do nível de concentrado ou energia na dieta final. Dessa forma, uma adaptação bem-feita evita o refugo de cocho e o surgimento de doenças metabólicas.

A combinação de ingredientes tecnológicos que otimizam o ambiente ruminal, aumentando o aproveitamento dos substratos advindos da dieta e atuam melhorando a resposta imunológica dos animais em situação de estresse, aliada a um manejo nutricional criterioso, é fundamental para o sucesso dessa etapa e das subsequentes.

CRESCIMENTO: daqui em diante, garanta estabilidade em todas as curvas.

Com ecossistema ruminal adaptado e estabilidade no consumo de alimento o objetivo nessa etapa é otimizar o aproveitamento dos nutrientes da dieta garantindo assim o contínuo crescimento da carcaça. Vários fatores aqui são fundamentais para o sucesso da “corrida”. Assim como um combustível premium determina a performance do motor de um carro de corrida, a qualidade e o processamento dos ingredientes da dieta contribuirão com o desempenho dos animais.

Vale ressaltar que nesse circuito de muitas voltas, ou podemos dizer, muitos dias, a equipe que atua no pit-stop precisa estar capacitada. A troca de pneus e reabastecimento de combustível precisa estar sincronizada. Mesmo que um confinamento seja caracterizado por ser um sistema em que a maior parte dos processos são “gerenciados”, ainda assim, diversos fatores não controlados influenciam a eficiência de engorda dos animais.

Devido à ausência de controle absoluto das variáveis intrínsecas ao processo, laçamos mão de ferramentas, como checklists, para aferir -> analisar -> chancelar os procedimentos operacionais durante todo o período. No confinamento, o sucesso também mora nos detalhes, detalhes esses que por falha de gestão podem ser negligenciados, interferindo negativamente no resultado financeiro da operação.

TERMINAÇÃO: a última curva para a reta final.

Nesse momento o consumo de alimento começa ser afetado pela limitação física de ingestão. Os órgãos do aparelho digestivo têm maturação anterior ao crescimento animal, dessa forma o aumento no peso corporal não é acompanhado pelo crescimento dos órgãos do trato digestivo.

A eficiência energética para deposição de tecidos, especialmente gordura na fase de terminação, está associada a redução na eficiência alimentar e ao aumento da exigência de energia para ganho. A perda de eficiência biológica pode ser amenizada com um eficiente manejo nutricional que maximize o consumo de energia na fase final do confinamento. 

Aqui nessa fase da “corrida” é que surge a dúvida “Qual o momento de abater os animais?”. O momento de enviar o animal para o frigorífico dependerá da condição individual e estratégia de negociação de cada operação. De modo geral, será viável manter o animal no cocho enquanto ele estiver ganhando carcaça o suficiente para pagar seu custo e ainda gerar lucro para o sistema. O ponto ótimo nunca será uma unidade de tempo determinada. Ele é uma relação direta do potencial genético do animal em ganhar carcaça, custo da dieta e preço de venda do boi gordo.

O PIT STOP: a sincronia perfeita do trabalho de uma escuderia vencedora.

Assim como em um Grand Prix F1, a eficiência operacional e a coordenação entre os membros da equipe desempenham um papel crucial no sucesso da empreitada. Da mesma forma que uma equipe de corrida busca maximizar o desempenho do carro e do piloto durante uma corrida, o gestor do confinamento busca otimizar performance animal e operacional, garantindo ao mesmo tempo resultados técnicos e econômicos satisfatórios. 

O pit stop é uma paragem durante uma corrida na área das boxes onde se encontram as equipes e seus mecânicos, para que durante a corrida os pilotos possam trocar de pneus e fazer o reabastecimento de combustível dos seus veículos.

O conceito de equipe e pit stop no confinamento de bovinos de corte não se trata apenas de uma analogia interessante como mundo automobilístico, mas sim de uma abordagem estratégica para garantir a eficiência e a rentabilidade da operação. Ao considerar aspectos técnicos, como manejo nutricional e sanitário, e aspectos humanos, como treinamento da equipe e comunicação eficaz, é possível melhorar significativamente o desempenho da operação e garantir um lugar no pódio da produtividade.

Os princípios e práticas utilizados em equipes de corrida de alto desempenho podem ser adaptados e aplicados na operação de um confinamento, visando melhorar e alcançar resultados excepcionais.

1) Treinamento intensivo: Assim como uma equipe de F1 investe em treinamento intensivo para seus mecânicos e engenheiros, as pessoas responsáveis pelo confinamento também devem passar por treinamento especializado. Mas lembre-se, o programa de treinamento não deve abordar apenas as habilidades técnicas necessárias, como manejo nutricional e sanitário, mas também a comunicação eficaz, trabalho em equipe e gestão.

2) Ferramentas e tecnologia: Manter-se atualizado com as últimas ferramentas e tecnologias disponíveis torna seu pit stop mais eficiente. Aqui posso citar vários exemplos: equipamentos mais eficientes e mais rápidos, ter o melhor “combustível” à disposição (núcleo e aditivos) e um bom sistema de gestão e análise de dados para identificar áreas de melhoria.

3) Checklists e Procedimentos Operacionais: Assim como no pit stop de um GP de F1, onde são utilizados checklists para garantir que todos os procedimentos sejam seguidos corretamente, o confinamento de bovinos pode se beneficiar de procedimentos operacionais padronizados e checklists para garantir que todas as etapas sejam realizadas de forma eficiente e segura. Isso ajuda a garantir consistência e eficiência em todas as “corridas”.

4) Planejamento estratégico: Da mesma forma que uma escuderia desenvolve estratégias para cada corrida, é importante que a equipe responsável pelo confinamento desenvolva um planejamento estratégico abrangente. Isso inclui a definição de metas de desempenho, alocação de recursos, escolha de parceiros comerciais e identificação de potenciais desafios.

5) Flexibilidade e Resiliência: Uma equipe de corrida precisa ser flexível e capaz de lidar com imprevistos durante uma corrida. A equipe estratégica e operacional do confinamento também deve ser resiliente e capaz de se adaptar a mudanças nas condições, como problemas técnicos, condições climáticas adversas ou mudanças nas condições de mercado. E se no dia da “corrida” estiver chovendo? E se depois de ter montado todo planejamento de compra dos animais, compra dos insumos, treinamento de toda equipe, no 12º dia de confinamento o vagão apresenta defeito? Senta-se e chora? Olha para o céu e pede uma ajudinha de Deus ou olha para o problema, pensa rápido e soluciona. Depois de dada a largada, o confinamento não pode parar.

6) Gestão de Recursos Humanos: Incentive uma cultura de melhoria contínua, onde os membros da equipe são encorajados a identificar oportunidades de aprimoramento e experimentar novas abordagens. Reconheça e valorize o papel de cada membro da equipe, desde os “mecânicos” até os líderes de equipe. Isso inclui fornecer feedback construtivo, reconhecimento por um trabalho bem-feito e incentivos para promover o engajamento e a motivação.

O PÓDIO: o tão sonhado primeiro lugar.

No fim de cada corrida, um momento de glória para o piloto e sua escuderia, sabemos que haverá apenas três lugares de destaque no pódio. Mas afinal, o que pode definir essas posições? Na nossa analogia aqui, acredito que dois fatores são fundamentais: estratégia, capacidade de execução e tomada rápida de decisões.

Antes do início de temporada as escuderias montam a estratégia para cada uma das corridas. Quero destacar aqui que isso não é feito de última hora. Planejamento leva tempo e precisa ser feito muito antes do início da temporada. No confinamento, podemos relacionar a estratégia com algumas definições importantes: peso máximo e mínimo para compra da reposição, máximo de ágio que se pode pagar, ingredientes que irão compor a dieta dos animais, compra/trava de insumos, negociação na venda do boi, se será travada ou não e por aí vai.

A cada “corrida” finalizada ou a cada lote embarcado, temos a oportunidade de conferir se o realizado está próximo do planejado e se preciso ajustar a estratégia para o próximo Grand Prix.

No lugar mais alto do pódio sobem as equipes que planejam, treinam o time, executam processos com maestria, acompanham e analisam resultados a cada corrida finalizada.

Em um Gand Prix de Confinamento, que é composto por muitas voltas em pistas de muitas curvas, em certos momentos até molhada, onde cada segundo conta, o que se esperada do piloto, do carro e do pit stop é disciplina, sincronia e perfeição.

É disso que são feitos os campeões.

 

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